O verdadeiro debate

Tenho percebido muitos jornalistas, opinadores e "acadêmicos" brasileiros distorcendo os acontecimentos nos Estados Unidos.

Enquanto grande parte deste blog é dedicado a expôr estas falácias, eu respeito o direito de resposta. No meu ponto de vista, não é ético criticar sem que os autores estejam cientes da existência desta crítica. Por esta razão, decidi notificar os meu alvos de crítica através de e-mail.

Estas pessoas são convidadas a se defenderem. Publicarei os seus argumentos sem restrição de espaço e conteúdo, após verificação que as respostas foram de fato remetidas pelos autores. Lembro a eles que para terem relevância, antes de argumentarem suas ideologias, disputem os fatos se desejam manter credibilidade.

Eu tenho a impressão que poucos irão responder, e os que fizerem, pelo menos demonstrarão que lhes interessam um debate aberto e honesto.


5/31/10

É Reinaldo Azevedo, mas podem chamar de "Reinaldo Pinóquio Azevedo"

O desespero de destruir o oponente politico chega algumas vezes a atingir a mediocridade, camuflando-se com ataques e acusações a mídia tradicional, inflada de retóricas vazias se dirigindo a esta como “dominada pela esquerda”.

Não sei se por idiotice ou preguiça mental, Reinaldo Azevedo decidiu em mais uma das suas dissertações ilógicas, usar um artigo escrito por  Gerald Warner, e publicado no Telegraph, versão digital do jornal Daily Telegraph, jornal britânico de obvia tendencia conservadora. É importante mostrar aqui a ironia, pois o Reinaldo acusa toda a mídia de ser esquerdista e usa um jornal conservador para ilustrar a sua vigarice.

Segundo o artigo intitulado “É Barack Hussein, mas podem chamar de “Barack Fidel Che Obama”, publicado na Veja em 17 de julho de 2009, o presidente Obama “resolveu dar um cavalo de pau na doutrina Monroe, que estabeleceu as Américas como área de influência dos EUA”. Isto seria porque Barack Obama, respondendo a crise militar de 2009 em Honduras, disse que os Estados Unidos nem sempre aceitou novas democracias, mas que ao longo do tempo, tanto republicanos como democratas reconhecem que o EUA tenta estar ao lado de países democráticos, mesmo que os líderes destas democracias nem sempre são favoráveis aos Estados Unidos. O fato de que o presidente hondurenho, Manuel Zelaya fez uma aliança com “marxista Chavez”, e sendo o marxismo uma “influência” europeia, Obama não somente deixou de seguir a doutrina Monroe, mas era também um marxista. Dá para compreender a desonestidade intelectual nesta "brilhante" dedução?

Continuando, a doutrina Monroe foi introduzida no dia 2 de dezembro de 1823 pelo então presidente americano James Monroe, que entenderia futuros atos de colonização ou interferência por parte de governos Europeus nos países do hemisfério americano como um ato de agressão. Esta doutrina também dizia que os Estados Unidos não iria interferir em guerras ou conflitos relacionados aos países europeus e suas colonias existentes, “pequeno” detalhe importante que os nossos tomadores de kisuco omitiram.

A doutrina foi revelada pelo presidente Monroe durante o discurso de Estado e União, e era um aviso aos poderes europeus para deixar “as Américas para os Americanos”. Não confundir isto com “as Américas para os Estados Unidos”. Esta doutrina foi ampliada de forma controversa em 1904 pelo Corolário Roosevelt. O presidente conservador Theodore Roosevelt emendou a doutrina Monroe com o Corolário afirmando que os Estados Unidos tinham o direito de interferir e estabilizar assuntos econômicos do Caribe e América Central se estes estivessem em delitos crônicos no pagamento das suas dívidas internacionais. Esta emenda foi duramente criticada, pois colocava os Estados Unidos como policia hemisférica e violava a intenção inicial da doutrina Monroe, que originalmente foi recebida calorosamente e com sincera gratidão por lideres da América Latina, apesar deles acreditarem que a doutrina era inefetiva e não passava de uma ferramenta para politica interna, sem real intenção de transforma-la em ação, caso surgisse a necessidade.

Os críticos do Corolário de Roosevelt estavam corretos, pois posteriormente isto seria uma desculpa utilizada por vários presidentes Americanos interferindo de forma irresponsável em varias ocasiões contra países latinos americanos, sem estas interferências terem qualquer relação com a doutrina original e suas intenções. Isto aconteceu em varias ocasiões quando os Estados Unidos invadiram e ocuparam a Cuba em (1906-1910), a Nicarágua (1909-1911, 1912-1925 e 1926-1933), Haiti (1915-1934), e a República Dominicana (1916-1924). Nenhuma destas interferências tinha quaisquer relações com influencia europeia, e sim a ver com conservadores Americanos tentando implantar nestes países governos que fossem favoráveis aos interesses políticos e econômicos dos EUA.

Finalmente, o presidente Calvin Coolidge decretou que os Estados Unidos não tinham direito a intervenção exceto sob ameaça de países europeus, revertendo o infame corolário e restaurando a doutrina Monroe a sua intenção original. Subsequentemente, o sensato presidente Franklin D. Roosevelt rejeitou intervenções futuras nos assuntos internos de países latinos, iniciando a politica de boa vizinhança.

Agora que expliquei a doutrina Monroe em contexto histórico e fatos, nos perguntamos: de qual forma os comentários do presidente Obama o qualificam como marxista, ou anti-americano? Esta retórica irresponsável não é atípica do midiagate, ela é simplesmente uma evidência de como os seus integrantes distorcem pequenos detalhes de passagens desconhecidas numa tentativa de revisar a historia, obviamente com intenção de influenciar as mentes e decisões de todo um povo, ou pelo menos uma parte dela a escolherem os seus lideres.

Eu sou defensor mordaz dos direitos de expressão, e apesar de entender que o mesmo tem ser exercido com cautela, não creio ser o papel do governo limita-la, ou muito menos proibi-la. Simultaneamente o direito de expressão não da a um individuo o direito de acusar outras  conscientemente sabendo que são falsidades. O que fazemos então quando os midiagates fazem isto com pessoas que não temos relação alguma, seja parentesco, pessoal ou profissional? Nos denunciamos, nós expomos, nós dizemos em alto e bom tom que  estas estão traindo não somente a confiança publica, mas também o respeito que a eles foi depositado.

Sim, o marxismo tem raízes europeias mas o mesmo e verdade em respeito a outras filosofias políticas, econômicas e sociais, portanto a acusação de que o presidente americano está abandonando a doutrina Monroe é um sofismo, visto que os acontecimentos em Honduras de 2009 não foi teve a interferência de qualquer nação europeia. Ironicamente o mesmo não é verdade quando líderes conservadores estavam em controle na Casa Branca.

Dois exemplos que demonstram isto claramente são atribuídas a dois presidentes conservadores, Dwight Eisenhower e Ronald Reagan. O primeiro permitiu que a União Soviética introduzisse o comunismo na pequena ilha caribenha, apos apertar o país com um embargo econômico que seguiu a revolução cubana. O embargo econômico na pequena ilha não deu ao governo cubano outra alternativa senão recorrer ao auxilio da União Soviética que vendo a oportunidade, moveu-se rapidamente com apoio militar e econômico para auxiliar o novo governo cubano perto do fim do mandato de Eisenhower. O resultado foi catastrófico e provocou uma crise que colocou todo o mundo a beira de um holocausto nuclear, prevalecendo o  bom senso, responsabilidade e incrível trabalho diplomático, combinados com pressão militar, de um jovem presidente liberal chamado John Kennedy, ainda que sob pressão de generais americanos que pouco compreendiam de diplomacia, e chegaram a sugeriram entre outras coisas, um ataque nuclear contra a ilha de Cuba. Quando Kennedy tomou posse da presidência, a influencia Soviética já estava estabelecida e Cuba havia se tornado em uma importante posição estratégica militar para o presidente Andruscha, pois posicionava misseis de alcance médio a 90 quilômetros da costa sul dos estados Unidos. A situação mais tensa da historia Americana foi revertida com uma única causalidade, o bravo piloto major Rudolf Anderson que teve o seu avião U-2 abatido durante uma missão de espionagem aérea sobre áreas onde os silos de misseis nucleares estavam sendo construídos e armazenados. Ainda mais escandaloso foi o presidente Eisenhower ter criado a doutrina Eisenhower em 1957, no qual outros países poderiam pedir assistência econômica e/ou militar para os EUA, se este fosse ameaçado de agressão armada por outro estado. O seu alvo principal era a união soviética e a doutrina assegurava o uso de forças armadas para proteger quaisquer países que fosse ameaçado por nações controladas pelo comunismo internacional. Como se vê, conservadores têm retorica mais forte que as suas acoes.

A segunda foi quando o presidente Ronald Reagan não somente ignorou, mas apoiou sua companheira e também conservadora Margareth Tatcher que usou as forças armadas britânicas para atacar forças argentinas nas ilhas malvinas. Argumentos podem ser levantados de que as ilhas Malvinas já eram um protetorado Britânico quando a guerra aconteceu, mas isto dificilmente serve para desculpar o seu apoio, enquanto a doutrina define a posição dos Estados Unidos como neutra em semelhante situação.

A propósito, o autor original do artigo no Telegraph, Gerald Warner tem o prefácio de um dos seus livros escrito por ninguém menos que a própria Margareth Tatcher. Conveniente, não é verdade Sr. Azevedo?

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