O verdadeiro debate

Tenho percebido muitos jornalistas, opinadores e "acadêmicos" brasileiros distorcendo os acontecimentos nos Estados Unidos.

Enquanto grande parte deste blog é dedicado a expôr estas falácias, eu respeito o direito de resposta. No meu ponto de vista, não é ético criticar sem que os autores estejam cientes da existência desta crítica. Por esta razão, decidi notificar os meu alvos de crítica através de e-mail.

Estas pessoas são convidadas a se defenderem. Publicarei os seus argumentos sem restrição de espaço e conteúdo, após verificação que as respostas foram de fato remetidas pelos autores. Lembro a eles que para terem relevância, antes de argumentarem suas ideologias, disputem os fatos se desejam manter credibilidade.

Eu tenho a impressão que poucos irão responder, e os que fizerem, pelo menos demonstrarão que lhes interessam um debate aberto e honesto.


5/18/10

Excesso de Cor , Falta de Cérebro – O Debate no Mérito que Demétrio Magnoli Busca.

Sem dúvidas, Demétrio Magnoli tem linguagem elegante, atrativa, e ele tem reconhecimento nacional entre as "elites intelectuais", com colunas e artigos nos jornais e revistas de maior reconhecimento e peso na mídia Brasileira. É um excelente debatedor (em monólogos) e tem um grande numero de admiradores, incluindo políticos e apresentadores.

Apesar de fazer duras criticas a Demétrio Magnoli neste artigo, gostaria que fosse compreendido que mais importantes, são as fontes para a minha refutação. Para que não existam duvidas, com pequenas exceções, as minhas fontes não são outras senão as autobiografias, discursos e textos do próprio Frederick Douglass. Não somente usarei tais textos, mas também fornecerei fontes disponíveis na internet onde estes trabalhos podem ser localizados, e sugiro o uso do tradutor google, se esta for a escolha do leitor. O tradutor Google não e perfeito e deixa a desejar em concordância ou outras áreas, mas é uma ferramenta importante a fim de claridade.

Isto tem significância porque aqui se esconde um segredinho podre que descobri sobre esta introdução. Eu não estarei revelando este segredo por algum tempo devido a simples razões: irritar os leitores, principalmente os fãs e o próprio autor, Demétrio Magnoli.

Demétrio Magnoli é "doutor" em "geografia humana" pela USP, venerado pela mídia como um “especialista de política exterior”, demonstra que mesmo tendo passado no vestibular e ter conseguido seu doutorado em uma das melhores universidades do país, não é digno de qualquer mérito, como ele quer exigir de alunos ingressantes ao ensino superior, em sua cruzada contra as Ações Afirmativas.

Tudo indica que a Universidade de São Paulo não lhe permitiu lecionar, e o “especialista” rejeitado chegou até a pedir a lista de quem votou contra a sua aprovação como lecionador, provavelmente para saber se tinha algum marxista. Aparentemente, sua rejeição acadêmica foi vista positivamente por agentes da mídia que resolveram usar os seus serviços como opinador profissional, e as portas se abriram para que todo o país tivesse suas asneiras empurradas nas paginas de jornais, revistas, livros, entrevistas e debates, onde a sua audiência vibra como se estivesse em frente a própria Sarah Palin, ex candidata a vice presidente dos Estados Unidos. Outra figura celebrada como politica hábil. Tão capaz de governar um país que teve que contratar um administrador para cumprir com suas obrigações de prefeita de Wassila no Alasca, cidade com população inferior a 5 mil habitantes e orgulhosa capital da metanfetamina do estado. Magnoli e Palin formariam uma dupla infalível. O apoio conservador já esta seguro. Vejam o link: http://www.usp.br/sg/decisoes2001/e04_09.htm

Acusações são vazias e repreensíveis sem a apresentação de evidências. Os brasileiros estão sedentos por informações e são escassas as obras que com veracidade relatam a história alem das nossas fronteiras. A introdução do livro é convidativa e o geógrafo atiça a curiosidade do leitor com a promessa de revelar a historia do mito das raças, confinando a maior parte do conteúdo aos fatos ocorridos nos Estados Unidos. O livro é repleto de falsidades, omissões, e distorções. Contudo, se os leitores que adquiriram o livro, buscavam apoio sustentando idiotices e ideologias, não se importando com a verdade, eles nasceram um para o outro. Neste artigo, focalizo na introdução do livro e corrigirei os "fatos", demonstrando que seria impossível a Demétrio Magnoli sustentar suas opiniões sem mentir descaradamente. Eventualmente demonstrarei que basicamente quase todo material produzido por Magnoli não passa de charlatanismo, falsidades, mediocridade acadêmica e racismo encoberto.

Um debate ideológico é importante e necessário, mas como fazer isto sem fatos?

Num mundo perfeito, eu evitaria a reprodução do conteúdo das matérias de Magnoli, mas infelizmente, o leitor não compreenderia detalhadamente que ao comprarem o livro eles não somente desperdiçaram seu dinheiro, mas também alguma massa cerebral. Vou utilizar a tinta vermelha representando Magnoli e a preta corrigindo os fatos. O texto de Magnoli está disponível na integra aqui. Isto é importante pois seria tremenda hipocrisia reproduzi-lo fora de contexto para critica-lo, e como irão observar, não o fiz. Nota-se também que Magnoli descreve inúmeros "fatos" sem dar referencia alguma a eles, o que é incomum em livros respeitados, porém é comum a mentirosos e falsários. Algumas destas correções aparentam não terem grande importância, mas contribuem na formação de uma narrativa tendenciosa, demonstrando a ineptidão e desqualificação de Demétrio Magnoli.

EXCESSO DE COR

Frederick Douglass nasceu escravo, numa cabana em Maryland, em 1818. Sua mãe morreu quando ele tinha 7 anos. Não há certeza, mas possivelmente ela surgira da união entre um africano e um índio americano. O menino nunca conheceu o pai, mas um dia afirmou ter recebido a informação de que seria um homem branco, talvez o proprietário daquelas terras e dele mesmo. De qualquer forma, quando seu presumido pai morreu, ele tinha 12 anos e foi transferido para a família dos Auld, em Baltimore.

Frederick Douglass nunca soube a data exata do seu nascimento, nem sequer o ano. Não podendo conhecer a sua idade certa, ele descreve este fato como "fonte de infelicidade até mesmo durante a minha infância", acrescentando: "As crianças brancas podiam dizer as suas idades. Eu não podia dizer porque eu era privado do mesmo privilegio". Em 1880 quando ele se reencontrou com o seu antigo "senhor" Thomas Auld, foi dito que nasceu em fevereiro de 1818, mas mesmo os documentos arquivados do seu primeiro "senhor" Aaron Anthony não eram conclusivos, pois foram incluídos posteriormente aos outros papeis, e com caligrafia diferente das outras. (1)

Douglass acreditava que seu pai não somente era branco, mas era o seu próprio "senhor" Aaron Anthony, de acordo com o que havia escutado em conversas. Isto foi repetido por Frederick Douglass em suas auto biografias, não em uma afirmação casual como Magnoli tenta diminuir. Magnoli minimiza esta possibilidade, ajoelhando-se diante do desmentido mito da democracia racial Brasileira, criado por Gilberto Freyre, que acentua a miscigenação brasileira para fundar suas teses.(2)

O título do livro em si é ambíguo com a sua proposta: ele exalta que o racismo Americano é obvio pelas leis de anti miscigenação, mas dá um tiro pela culatra falando da regra de "uma gota de sangue". Esta regra que considerava como negro as pessoas com ancestralidade negra, não existiria sem a miscigenação. De fato existiram leis contra a miscigenação nos Estados Unidos, mas como se criaria tais leis se não houvesse relacionamento entre brancos e negros? A miscigenação nos Estados podem não ter acontecido em grande escala como no Brasil - isto devido a fatores estatísticos e tipo de colonização - o que não é evidencia conclusiva que a ausência da mesma lei no Brasil prove a ausência do racismo.

Sophia Auld, a esposa de seu novo proprietário, não era uma figura qualquer. Sem que o marido soubesse, e desafiando uma lei, ela ensinou o garoto a ler e escrever. Por meio de Sophia, Douglass descobriu o The Columbian Orator, uma coletânea escolar de discursos patrióticos e poemas nos quais ele encontrou a ideia de igualdade entre os seres humanos. Nos anos seguintes, teve diferentes proprietários e chegou a ensinar dezenas de escravos a ler o Novo Testamento em aulas dominicais numa igreja negra. Em 1838, na segunda tentativa, conseguiu fugir, disfarçado de marinheiro, por trem e vapor, para New Bedford, Massachussets, onde se tornaria um dos mais importantes líderes abolicionistas dos EUA.

Sophia Auld somente iniciou sua alfabetização, e quando ele estava começando a aprender soletração de palavras de 3 ou 4 letras, o seu "senhor", Thomas Auld descobriu o que estava acontecendo e proibiu a sua esposa de continuar ensinando Douglass a ler, argumentando que "Se você dá um "negro" (ele usou a palavra mais pejorativa no idioma inglês) uma polegada, ele tomará o braço. O "negro" não deve saber nada, senão obedecer a seu senhor". (3) A própria Sra Auld passou a vigia-lo a partir deste momento para assegurar que ele não iria aprender a ler, opondo-se de forma ainda mais violenta que seu próprio esposo. Douglass aprendeu a ler por conta própria e com o auxilio de crianças pobres em Baltimore, às escondidas, quando ele roubava pão dos seus "senhores" e trocava por lições. (4) Douglass comprou o livro "The Columbian Orator" escondido, e com dinheiro que juntou fazendo pequenos "bicos". Ele adicionou que "nada a deixava mais irada que vê-lo com um jornal." (5)

Outra coisa que muito me chamou a atenção foi a descrição de Sophia Auld, que “não era uma figura qualquer”. Para Magnoli, o simples ato de alguém ver uma criança negra como ser humano por um minuto sequer e ensinar esta criança algumas letras, faz pairar sobre ela uma aura celestial. Um ato sublime e divino que a separa de todos seres humanos. Mais adiante, verificarão que Magnoli descreve como radical, um homem disposto a morrer lutando contra a escravidão.

Sophia Auld também não desafiou a lei pois não era proibido educar escravos no estado de Maryland. Não sei de onde Magnoli tirou isto. (6)

O discurso de Douglass do 4 de Julho foi pronunciado em 1852, no Corinthian Hall da cidade de Rochester, Nova York, um lugar hoje transformado em estacionamento no qual discursariam Ralph Waldo Emerson, Charles Dickens e o também abolicionista William Lloyd Garrison. Entre a fuga da escravidão e o convite para se pronunciar na data nacional americana, Douglass colaborou com a Sociedade Americana Antiescravista, escreveu uma autobiografia precoce que fez enorme sucesso, visitou a Irlanda e a Grã-Bretanha, publicou jornais abolicionistas. Na viagem ao exterior, conseguiu oficializar a sua condição de homem livre, comprada por simpatizantes britânicos, e encontrou-se com Thomas Clarkson, o maior abolicionista inglês, que morreria meses depois, aos 81 anos. O North Star, um dos jornais que criou, tinha como dístico a frase “o Direito não tem sexo – a Verdade não tem cor – Deus é o pai de nós todos e somos todos irmãos”.

Frederick Douglass a conselho de amigos, fugiu para a Irlanda e Inglaterra por medo de ser capturado por caçadores de recompensa, assim que o seu nome começou a ser divulgado. (7) Ele fez bom uso da viagem, mas isto não significa que ele foi a turismo.

O caminho de Douglass rumo ao movimento abolicionista foi aberto por um encontro com Garrison, o editor do jornal The Liberator, que falava a uma plateia antiescravista. O ex-escravo tinha 23 anos. Convidado a contar sobre sua vida, causou forte impressão no respeitado abolicionista, um jornalista e reformador filho de imigrantes do Canadá. Os dois homens colaboraram estreitamente, até que uma divergência filosófica os separou.

Garrison classificava a Constituição americana como um abominável contrato escravista e, em 1854, chegou a queimá-la em público, provocando animada celeuma. Douglass refletiu muito sobre o assunto e, sob a influência de Lysander Spooner, um anarquista individualista, concluiu que, ao contrário do que apregoava Garrison, a Constituição é, essencialmente, um documento antiescravista. No texto constitucional, o instituto da escravidão encontra-se implícito nas seções 2 e 9 do artigo 1°, que mencionam “todas as outras pessoas” (isto é, os escravos) ou a importação de pessoas (isto é, o tráfico escravista). Entretanto, só está explícito numa Emenda fracassada, de 1861, que pretendia proibir o Congresso de interferir em leis estaduais escravistas, e na célebre 13ª Emenda, de 1865, que aboliu a escravidão. Douglass extraía disso, sobretudo da força do princípio constitucional da igualdade, as razões para seu apego ao texto fundador da nação americana. A acusação de Douglass, no Quatro de Julho de 1852, não se voltava contra os princípios fundadores dos EUA, mas contra a traição a eles:

Não é surpresa que a superficialidade e pobreza de espirito de Demétrio Magnoli o impedisse de compreender este importante discurso (que em breve espero traduzir ou encontrar tradução para publicar na integra). Na realidade, Douglass dirigiu-se aos "Pais Fundadores" em uma mescla de admiração e reservas, pois no seu discurso ele exalta os seus princípios de liberdade expressos na Declaração da Independência e Constituição, mas os contrasta com as suas falhas em estende-la a todos. Frederick Douglass deixa claro que os fundadores da nação foram memoráveis ao definirem os direitos naturais e as dadivas divinas, mas falharam em enxergar os negros como seres humanos. (8)

Outra demonstração desta grotesca introdução do livro de Magnoli, e que posteriormente, Douglass reconheceu a constituição como insuficiente para assegurar os direitos de todos os homens e argumento anti-escravagista sem as emendas adicionadas após a presidência de Lincoln. (9) Douglass também descreveu sem ambiguidade que a sua aproximação a este ponto de vista não era simbolismo demagogo, como faz Magnoli, mas detalhada tática legal refutando os sulistas e escravistas que usavam a constituição para justificar a escravidão, incluindo argumentos diante a Corte Suprema que arriscavam trazer a escravidão ate mesmo aos estados que já a haviam abolida. Uma decisão desta magnitude teria efeito devastador em todo território nacional. (10)

A própria proclamação da abolição feita por lincoln através de duas ordens executivas, foi sabiamente transformada em emenda constitucional devido a receios que poderiam ser interpretadas pelos estados em rebelião como medidas temporárias, validas somente durante a guerra civil. (11)

De pé, aqui, identificado com o americano cativo, fazendo meus os males que o afligem, não hesito em declarar, de toda a minha alma, que o caráter e a conduta desta nação nunca me pareceram mais deploráveis (entrevadas) que neste 4 de Julho! [...] Os EUA são falsos com o passado, falsos com o presente e solenemente se consagram a serem falsos com o futuro. Nesta ocasião, ao lado de Deus e do oprimido e ensanguentado escravo, eu ousarei (vou)– em nome da humanidade que é ultrajada, em nome da liberdade que é acorrentada, em nome da Constituição e da Bíblia, que são desprezadas e iludidas (pisoteadas)– a desafiar (atrevo-me em questionar) e denunciar, com toda a ênfase que posso reunir, tudo o que serve para perpetuar a escravidão – o grande pecado e a vergonha dos EUA.

No pequeno [...], Magnoli desgraçadamente omite a alma do paragrafo para caber aos seus propósitos: "Se nos voltarmos para as declarações do passado, ou para as declarações solenes do presente, a conduta da nação parece igualmente horrível e revoltante."
Ali estava Frederick Douglass, um homem negro levantando sua voz diante de uma audiência branca dizendo: Mas imagino ouvir alguém do meu público dizer: "É nesta mesma circunstância que você e seus irmãos abolicionistas deixam de fazer uma impressão favorável sobre a mente do público. Discuta mais, denuncie menos; convença mais, e repreenda menos; sua causa seria muito mais provável a ter sucesso. " Mas eu digo, de uma forma clara, não há nada a ser discutido. Qual ponto do credo anti-escravidão que você quer que eu defenda? Em que ramo deste assunto as pessoas deste país precisam de luz? Devo proceder para provar que o escravo é um homem?

E Douglass continua: "O que é isso, mas o reconhecimento de que o escravo é um ser moral, intelectual e responsável? ...Quando os cães em suas ruas, quando as aves do céu, quando o gado em suas colinas, quando os peixes do mar, e os répteis que se arrastam, são incapazes de distinguir o escravo de um animal, então eu vou discutir com que o escravo é um homem! " (12)

O abolicionismo de Douglass representava uma forma de adesão aos EUA – não o país da escravidão, mas o da liberdade anunciada na Declaração de Independência e na Constituição. Ele tentou demover o abolicionista radical John Brown de seu plano de organizar uma rebelião armada no Sul e desaprovou o ataque ao arsenal federal de Harpers Ferry, na Virgínia Ocidental, primeiro e fracassado passo do projeto insurrecional. Com a eclosão da Guerra Civil, precipitada pelo ato de Brown, Douglass conclamou os negros a se engajarem nas tropas da União e, em 1863, conversou com Abraham Lincoln sobre o tratamento que se dispensava àqueles soldados.

O tratamento trivial dado ao nome de John Brown é no minimo repreensível, pois o tom climático de Magnoli dá a impressão que o "abolicionista radical" estava errado, principalmente por não ser demovido por Frederick Douglass, um homem de razão. O fato é que Douglass tentou persuadir Brown a desistir do ataque porque eles eram grandes amigos, e considerava a iniciativa suicida. Mas a admiração que ele tinha por John Brown não foi enterrada ou omitida.

Em homenagem emocional ao grande espírito e caráter de Brown, ele deixou as seguintes palavras: "Será que John Brown falhou? Ele certamente errou de sair de Harper's Ferry, antes de ser abatido por soldados dos Estados Unidos, ele deixou de salvar sua própria vida, para conduzir um exército libertador para as montanhas da Virgínia. Mas ele não foi para a Harper's Ferry para salvar sua vida. A verdadeira questão é, Será que John Brown, ao desembainhar a espada contra a escravidão, assim perdeu a sua vida em vão? A isto respondo dizendo dez mil vezes que não! Nenhum homem falha, ou pode falhar quando grandiosamente dá a si mesmo e tudo que ele tem uma causa justa." e que "Eu podia viver pelos escravos, John Brown podia morrer por eles." (13)

Depois da guerra, defendeu o sufrágio universal e os direitos das mulheres. Durante os anos da Reconstrução, um tempo curto de reformas liberais nos estados da antiga Confederação, Douglass presidiu um banco federal voltado para o desenvolvimento das comunidades negras no Sul, apoiou as iniciativas de repressão à Ku Klux Klan e serviu em postos diplomáticos no Haiti e na República Dominicana. Em 1876, pronunciou seu discurso mais comovente na cerimônia de inauguração do Memorial à Emancipação (também conhecido como Memorial a Lincoln), em Washington.

Banco Federal voltado para o desenvolvimento das comunidades negras no sul? Uma instituição "racialista" federal voltada para o desenvolvimento de cidadãos baseados na sua cor da pele? Ações Afirmativas racistas? Demétrio Magnoli neste caso fala a verdade ao citar o Freedman's Saving Bank, criado pelo "racialista" Abraham Lincoln e que teve como presidente Frederick Douglass, filho de um homem branco e uma mulher negra. (14)

A Reconstrução terminou em 1879, quando as velhas elites sulistas retomaram o controle dos governos estaduais. Diante da reação, formou-se um movimento que chamava os negros a deixarem o Sul, transferindo-se para comunidades fechadas no Kansas. Douglass reprovou ativamente a iniciativa e tomou a palavra em reuniões do movimento para, enfrentando as vaias das plateias, dissuadir os negros da ideia de separação física. Ele conclamou à resistência e, nas piores condições, continuou a acreditar no sonho da nação única.

A reconstrução terminou em 1877. Diante da violência experienciada pelos negros libertos no sul, um movimento que ficou conhecido como Exodusters, chamava ex escravos para se deslocarem para o Kansas. Douglass não se opôs porque sonhava com uma nação unida, como diz Demagogo Magnoli, mas porque achou o movimento mal organizado e vários outros motivos políticos, alem do movimento coincidir com uma epidemia de febre amarela nas cidades beira rios a caminho do Kansas, o que tornou a situação ainda mais calamitosa. Os moradores locais, na ignorância da época pensavam que a febre amarela estava sendo transmitida pelos recém libertos escravos.

De certa forma, pode-se atribuir a Douglass a criação do movimento negro organizado com fins políticos. No seu discurso contra o êxodo, nem uma vez ele fala de “nação unida”, mas fatores sociais, econômicos , constitucionais e representação politica dos negros como “um povo” ou “uma raca”. (15)

Infelizmente, Douglass errou ao acreditar que a constituição americana por si traria a solução da crescente violência contra os negros no sul, assim como subestimou as manobras politicas extirpando o negro do poder do voto. É notável que antes mesmo da guerra civil, Douglass chegou a fazer planos com o Presidente Lincoln para remover toda a população negra do sul do país. Douglass também levou em consideração que os negros sofreram por muito tempo para abandonarem territórios que tinham direito de viver como cidadãos livres. Para Douglass, permanecer no sul não buscava a mensagem de unidade, mas de desafio. Ele também justificou que numericamente, eleitores republicanos da época - que ideologicamente são os democratas atuais – já eram bem representados no norte, e que o êxodo diminuiria a representatividade eleitoral do negro no sul.

A outra razão não foi o "sonho da nação única", mas o fato que o abandono dos territórios do sul diante a crescente perseguição destruiria o espirito que sacrificou a tantos durante a guerra: milhares morreram não simplesmente para libertar os escravos do sul, mas expandir a liberdade por todo território nacional. Sem negros libertos vivendo no sul, a guerra teria sido redundante. (16)

Anna Murray Douglass, a esposa com quem Frederick viveu desde a fuga do cativeiro, morreu em 1882. Dois anos depois, ele se casou com Helen Pitts, uma feminista branca de Nova York, desafiando o tabu que pesava contra as uniões inter-raciais. Em 1888, na Convenção Republicana, um delegado do partido votou em Douglass para candidato a presidente dos EUA Num comício em Jacksonville, na Flórida, 120 anos mais tarde, um dia antes da eleição presidencial, Barack Obama concluiu seu discurso parafraseando Douglass: “Não imaginem por um minuto que o poder cederá qualquer coisa sem uma luta...”.2

Outro tabu foi a diferença de idade entre Douglass e Helen Pitts que na época tinha 46 anos de idade e Douglass tinha 67. Esta diferença de quase 20 anos é curiosa, uma vez que senhores sulistas (a grande maioria pedófilos) não tinha qualquer receio em estuprarem crianças negras, algumas destas com 10 anos de idade.

Barack Obama também não parafraseou Douglass. Esta citação esta no livro de “A Audacidade da Esperança” de autoria do presidente, porem ele esta se referindo a luta sangrenta que foi a guerra civil americana e o derramamento de sangue necessário para trazer a igualdade que as palavras na constituição não trouxeram. Este espirito de luta no seculo 19 não e o mesmo buscado pelos grupos de direitos civis americanos ou brasileiros. Alias, a forma digna e conduta do movimento negro Brasileiro e moldada pelo espirito pacifico e incansável como exibido por Martin Luther King Jr.

“O melhor que posso fazer em face da nossa história é lembrar-me que não tem sido sempre o pragmatismo, a voz da razão, ou a força do compromisso, que criou as condições para a liberdade. Os duros, frios fatos (de água) me fazem lembrar que foram inflexíveis idealistas como William Lloyd Garrison, que soou a primeira chamada de clarineta por justiça, que foram ex-escravos e escravos, homens como Denmark Vesey e Frederick Douglass e mulheres como Harriet Tubman, que reconheceram que o poder não admitiria nada sem luta. Foram as profecias de olhos arregalados de John Brown, sua disposição de derramar sangue, e não apenas palavras em nome de suas visões, que ajudaram a forçar a questão de uma nação metade escrava e metade livre.” (17)

Os campos de batalha são os tribunais, o piso parlamentar e o coração de cada brasileiro. As únicas ameaças de violência partem senão dos mais ávidos oponentes as acoes afirmativas e direitos civis, que constantemente avisam do “perigo” existente do governo reconhecer a existência de desigualdades através da cor da pele de cada cidadão, esquecendo-se que a mesma constituição determinando “ a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível” jamais poderia ser aplicada sem que o nosso governo e o sistema judiciário identifique a vitima e o agressor pelos mesmos requisitos.

O resto da introdução é basicamente a reciclagem das mesmas bestialidades que já foram corrigidas acima. No entanto deixo claro não somente o conteúdo do livro, mas também das suas colunas nos jornais e revistas são historicamente incorretos, omissos e tendenciosos, o que não deveria surpreender os leitores. Os fatos como são, jamais permitiriam que Demétrio Magnoli tivesse uma carreira como "sociólogo", "doutor em geografia humana", "especialista em politica internacional" ou qualquer outro título que ele gosta de inventar. Por isto, mentir ou falar pelo cotovelo é tao importante. Só não vai enxergar quem não quer...ou está com “pó de pirlimpimpim” nos olhos.


1 - Young Frederick Douglass: The Maryland Years - Dickson J. Preston

2 - Life and Times of Frederick Douglass, pg 27

Narrative of the Life of Frederick Douglass pg 2

3 - Narrative of the Life of Frederick Douglass pg 33

4 - Narrative of the Life of Frederick Douglass pg 38

5 - Narrative of the Life of Frederick Douglass pg 37

Life and Times of Frederick Douglass, pg 103

6 - United States - Constitutional & Legal Foundations

7 - Life and Times of Frederick Douglass, 391

8 - What to the Slave is the Fourth of July? Frederick Douglass July 5, 1852

9 - Frederick Douglass, Life and Times of Frederick Douglass, pg 528

10 - Frederick Douglass, Life and Times of Frederick Douglass, pg 652 - 669

11 - http://www.ourdocuments.gov/doc.php?flash=old&doc=40

12 - What to the Slave is the Fourth of July? Frederick Douglass July 5, 1852

13 - Frederick Douglass, The Colored Orator: Holland, Frederic May, 1836-1908 pg 266 http://docsouth.unc.edu/neh/holland/holland.html

14 - http://www.archives.gov/publications/prologue/1997/summer/freedmans-savings-and-trust.html

15 - Frederick Douglass, Life and Times of Frederick Douglass, 521-532

16 - Frederick Douglass' Civil War: keeping faith in jubilee - By David W. Blight

17- The Audacity of Hope: Thoughts on Reclaiming the American Dream, By Barack Obama pg 116

Links:
Frederick Douglass, Life and Times of Frederick Douglass, Written by Himself. http://docsouth.unc.edu/neh/dougl92/dougl92.html
Frederick Douglass, My Bondage and My Freedom http://docsouth.unc.edu/neh/douglass55/douglass55.html
Frederick Douglass, Narrative of the Life of Frederick Douglass, an American Slave. Written by Himself http://docsouth.unc.edu/neh/douglass/douglass.html
Frederick Douglass What to the Slave is the Fourth of July? July 5, 1852
http://teachingamericanhistory.org/library/index.asp?document=162

Frederick Douglass, The Colored Orator: Holland, Frederic May, 1836-1908
http://docsouth.unc.edu/neh/holland/holland.html

United States - Constitutional & Legal Foundations
http://education.stateuniversity.com/pages/1628/United-States-CONSTITUTIONAL-LEGAL-FOUNDATIONS.html

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